domingo, 2 de agosto de 2009

Capítulo 8 - Grandes nomes e revelações.

Já falei sobre o início, os primeiros shows, as reformas, o choro aos domingos, a escalada do sucesso; sobre Filó, Toninho Horta, Guinga; sobre a Rádio Musical, projetos Cadê a MPB e o maravilhoso resgate do samba. Vamos ver então o que ainda falta.

No último capítulo, eu dizia que, nos anos em que o samba apareceu bastante, os outros gêneros não deixarem de ser programados. De fato, ao lado dos shows quinzenais de fim-de-semana e das rodas em outros dias, a gente continuou abrindo espaço pra todo mundo. Firmamos nossa grade com apresentações de terça a domingo, todas as semanas, todos os meses. Um verdadeiro recorde, que continua até hoje.

Poderia citar aqui vários nomes que subiram ao nosso palco nesses anos todos, correndo o risco evidente de esquecer muita gente boa. Aliás, já tive vários problemas em fazer esse tipo de lista, alguém sempre se sente desprestigiado, mas não posso deixar de fazê-las - nem também me adentrar em pesquisas intermináveis pra tentar incluir tantos nomes. Nem caberiam, e seria enfadonho para escrever e para ler.

Uma idéia seria separar por estado, começando, por exemplo, por Minas. Puxando pela memória: Toninho Horta, Paulinho Pedra Azul, Tavito, Túlio Mourão, Sérgio Santos, Nelson Angelo, Telo Borges, Affonsinho, Marku Ribas, Tadeu Franco.
Baianos? Capinan, Xangai, Roberto Mendes, Vicente Barreto, Gerônimo, Gereba, Nelson Rufino, Péri, Moisés Santana, Ione Papas, Hélio Braz.
Do Rio, off-samba-de-raiz? Aldir Blanc, Billy Blanco, Fátima Guedes, Jards Macalé, Carlos Dafé, Ivor Lancelotti, Marisa Gatta Mansa, Paulinho Tapajós, Guinga.
E os paulistas: Jean e Paulo Garfunkel, Alzira Espíndola, Maurício Pereira, Alaíde Costa, Oswaldinho Vianna, Miriam Mirah, Léa Freire, Arismar do Espírito Santo...
Não dá, é uma lista sem fim.

Registro, no entanto, as revelações, pelo menos as que lembrar. Revelar gente boa é talvez o melhor legado que o Villaggio Café deixe para as gerações futuras. Poucos sabem que foi em nosso palco que muita gente deu seus primeiros e regulares passos. Não só fazendo "seu primeiro show", mas atuando com certa freqüência e adquirindo maturidade musical, experiência e segurança de palco.

Cito alguns casos que tenho certeza de que foram os primeiros shows mesmo: o compositor Kléber Albuquerque, as cantoras, Juliana Amaral, que hoje lança seu segundo CD pela gravadora Lua e Bruna Caram, destaque dos cadernos culturais do momento.
Em abril de 1996, Zeca Baleiro já era parceiro de Chico César, mas atuava esporadicamente em bares como o extinto Sanja. Fomos atrás dele, marcamos e conseguimos uma bela foto na Folha. Por coincidência, a partir dos dois shows que fez no Villaggio sua carreira começou a decolar. Chico César já tocava na rádio Musical em 1995, mas - é uma impressão minha - seu show no Villaggio pode ser considerado um dos que fez parte da sua trajetória inicial, muitos clientes falam dessa noite até hoje.

Yamandú Costa ainda assinava Diamandú e era freqüentador discreto da casa em 1998, e eu - já ouvindo buxixos sobre seu talento - o convidei pra fazer seu primeiro show "oficial" em 1999, com divulgação na imprensa etc. e tal (tenho esse show gravado). Lembro-me que fui buscá-lo em casa e convidei, com pouco sucesso, um monte de músicos pra assistir.
Mais cantoras? Ceumar tinha recém-chegado de Minas, acho que em 1996. Apareceu no Villaggio, nos deslumbrou, e tocava às quartas-feiras. Consuelo de Paula ainda se chamava Maria Consuelo quando pediu uma temporada às quintas-feiras, pra testar repertório e público. Fabiana Cozza não sei se foi o primeiro, mas lembro-me que era desconhecida quando fez vários shows conosco, em 2000 e 2001. Ana Luisa, prêmio de melhor intérprete no Festival da Cultura há dois anos, era assídua do Villaggio no final da década de 1990. Fernanda Porto foi por mim convidada quando poucos sabiam quem era, saiu no Guia da Folha e tudo. Lembro-me ainda das (hoje) aclamadas Giana Viscardi (que também foi destaque no Guia, com foto e resenha do Carlos Callado) e Verônica Ferriani trazendo seus CDs demos e pedindo uma data para mostrar seu trabalho (prontamente atendidas, diga-se).

Chico Saraiva, vencedor do Prêmio Visa, fez diversas vezes nosso palco um laboratório para suas experiências com platéia. Assim como Fred Martins, outro ganhador do mesmo prêmio, pisou num palco em São Paulo pela primeira vez em 2001 - no Villaggio. Mais um vencedor (assim como o Yamandú), Renato Braz, nos prestigiava desde 1994.
Jorge Vercilo cantou para oito pessoas numa sexta-feira, acho que em 1998 ou 99. Lembro-me que mandei um bilhetinho pra ele mostrar suas composições diante da insistência em fazer "covers". Espantado, perguntou ao microfone: "mas...eu posso?". Minha resposta: "rapaz, se tem algum lugar que você pode, é aqui".
Já falei do Quinteto em Branco e Preto, que começou a aparecer e se firmou conosco quando ainda se chamava Café com Leite. Do pessoal do samba, foram vários casos: Wilson das Neves foi convencido por mim a mostrar seu primeiro e magistral CD acompanhado por um grupo de samba, já que a formação do disco era inviável financeiramente naquele momento (baixo, batera, piano, etc.); Tia Surica, como também já foi dito aqui, arriscou seu show-solo inaugural com a gente; Diogo Nogueira, Marquinhos de Oswaldo Cruz, Áurea Maria, Dorina, Bira da Vila, Luiza Dionísio, Serginho Meriti e os grupos Produto do Morro, Samba Raro, Filhos de São Mateus, T.Kaçula...foram muitos que surgiram em São Paulo no Villaggio.

Houve muito mais casos. Mas, até pela quantidade de nomes e as dificuldades de mercado que todos conhecem, infelizmente muitos deles não tiveram a mesma sorte. De qualquer forma, o espaço foi aberto igual e democraticamente.

E ainda hoje é assim. Graças a Deus, o tempo todo, somos procurados por gente nova e talentosa.
E, enquanto der, pretendemos continuar com esse gratificante trabalho, movido a puro idealismo e prazer.

Em frente. No próximo capítulo, creio que o último desta série, falarei sobre os anos recentes até o momento atual - e sobre as perspectivas futuras.

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