domingo, 2 de agosto de 2009

Capítulo 4 - Filó Machado e o fim da adolescência

Eu estava partindo para minhas férias na praia, no verão de 1996/97, quando a Rô me contou que tinha fechado com o Filó uma temporada de 08 shows, nas terças e quartas de janeiro. Fiquei entre surpreso e feliz, pois, mesmo não o conhecendo pessoalmente, tinha as melhores informações sobre suas performances no lendário bar Boca da Noite, na década de 1980. Filó estava retornando da França, onde havia morado nos últimos cinco anos, e queria fazer uma mini-temporada num lugar fixo, com alguma divulgação na imprensa, para que pudesse reencontrar seus fãs e amigos. Pra nossa sorte, escolheu o Villaggio, muito pela localização no seu bairro do coração: o Bixiga.

Então tá, vamo que vamo!... Na passagem de som, a senha: nada de voz e violão. A acompanhá-lo, nada menos que quatro músicos: Dinan Machado na guitarra (e vocais), Miriam Bauer no baixo (e vocais também), Fábio Canella na bateria, e seu filho Vitor no teclado. Ele, Filó, na outra guitarra e voz. Muito bom, mas...como colocá-los num palco de 1 x 2 m? Simples: metade no palco, metade no chão.

O resultado, ainda que acidentalmente, foi que aquela formação passava a dar outra cara ao bar - e um outro peso artístico. Era como se saíssemos da adolescência pra fase adulta. E assim foi: a cada noite, mais gente - a maioria músicos. Um contava pro outro, e antes da primeira série acabar já estávamos fechando a segunda, com mais 08 shows.Foram dois meses mágicos: Filó com a corda toda, relembrando sucessos e trazendo músicas e arranjos novos; a rapaziada tocando com a maior garra, e sempre tinha uma canja diferente. Virou um acontecimento na cena musical alternativa paulistana e jogou, definitivamente, o Villaggio na boca do meio artístico. 1997 sempre será um ano inesquecível pra gente: a partir do Filó, decidimos aumentar o espaço do salão, quebrar o (já citado) balcão, aumentar o palco, fazer tratamento acústico, enfim, mergulhamos de cabeça. Depois disso, ele virou "da casa", e até hoje se apresenta regularmente em nosso palco. De quebra, deu-me a honra de gravar e lançar dois belos discos pela Lua: Porto Seguro, em 2001, e Tom Brasileiro, em 2005.

O ano ainda reservava novidades. Os shows continuavam a pleno vapor nos demais dias da semana, e a gente continuava atrás de gente legal e diferenciada. Nomes como Léa Freire (retomando conosco sua carreira, depois de muitos anos afastada), Sérgio Santos, Eudes Fraga, Jarbas Mariz, irmãos Garfunkel, Zezé Freitas, Michel Freidenson, Maria Martha - e tantos outros - realizaram espetáculos inesquecíveis. Em início de carreira, Moisés Santana, Kléber Albuquerque, Élio Camalle, Gigi Trujillo, Fabiana Cozza e - pasmem - até o (então) desconhecido Jorge Vercilo fizeram seus primeiros shows no Villaggio.

Muito desses contatos, é preciso que fique registrado, foram possíveis graças à ajuda da nossa querida amiga (e grande cantora) , Daisy Cordeiro, que não se cansou - nunca - de recomendar a gente para todos os artistas que conhecia - e conhece. A Daisynha foi figura fundamental pro Villaggio, e vai ter nosso carinho eterno.

Em junho trouxemos o ex-Boca Livre Claudio Nucci para nossa festa de cinco anos. Casa superlotada, emoção total. Com ele, o conselho para que investíssemos num som mais profissional, pois com o nível artístico subindo, a exigência também aumentaria. Aquilo mexeu com a gente: ele estava certo, e, pouco tempo depois, fizemos um "mega" financiamento pelo Sebrae e compramos um sistema completo, tudo importado, das melhores marcas. Tão bom que, fora a mesa que já foi trocada, o restante até hoje funciona perfeitamente. Valeu o investimento.

Ah, sim: um pouco antes, em abril, tinha ocorrido outra virada: a parceria com a Rádio Musical FM, através da doce Miriam Ramos e seu antológico programa Boa Safra.

E, em julho, outro grande momento: nossa amizade com o compositor carioca Moacyr Luz.

Mas, isso tudo fica pro próximo capítulo.

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