domingo, 2 de agosto de 2009

Capítulo 5 - A parceria com a Rádio Musical FM

Não tenho bem certeza, mas acho que foi no mês de março. O ano, eu sei que foi 1997. Voltava de viagem, numa segunda-feira à noite, quando, ao sintonizar a rádio Musical FM na estrada, já perto de SP, comecei a ouvir um programa de entrevistas chamado Boa Safra. Comandado pela jornalista Miriam Ramos, durava uma hora e trazia, toda semana, dois artistas chamados "alternativos" que, em blocos diferentes, falavam sobre seu trabalho e mostravam faixas de seus discos.

Naquele exato momento, tive a idéia de propor uma espécie de parceria Villaggio-Boa Safra, obviamente sem poder pagar nada, mas - quem sabe - na base da permuta com nosso cardápio, já que a Musical era vizinha do bar.

Deu certo, e o Villaggio passou a ser o primeiro (e único) apoiador do programa. Muito pela identificação que a Miriam teve com nosso trabalho, de apostar na MPB alternativa e nos novos (ou esquecidos) talentos. E também pela grande afinidade pessoal que surgiu, imediatamente, entre a gente.

Foi mais uma "virada" na história do bar: durante muito tempo o slogan "Programa Boa Safra. Apoio: Villaggio Café, o lugar certo da MPB em São Paulo" foi ao ar, em diversos horários, numa época em que a Musical era o maior e melhor espaço de MPB na mídia radiofônica em São Paulo e, por tabela, no Brasil. Com uma proposta inovadora, cara de rádio grande, locutores e vinhetas modernas, promoções, bom sinal e áudio e bom alcance, marcou época no meio musical, sendo a responsável pelo lançamento de nomes como Zélia Duncan e Chico César, entre outros.

Com a Musical bombando, o Villaggio também aumentou sua visibilidade. Além disso, a parceria previa que artistas que fizessem shows na casa tivessem - uma vez por mês - espaço assegurado no Boa Safra para entrevista. Com isso tudo, passamos a ser mais procurados do que nunca, e isso facilitou o trabalho de fazer uma grade mais extensa, com shows a semana inteira.

Algum tempo depois, a Miriam saiu da Musical e levou seu programa, sem que outra emissora abraçasse o projeto. Continuamos mais um tempo lá graças à (querida) Tânia do departamento comercial, mas em 1999 a rádio foi vendida para um grupo evangélico, deixando uma lacuna na cena musical alternativa que nunca mais foi preenchida. Eu, inclusive, sou adepto da teoria de que o fim da Musical fechou a última grande porta da mídia para a boa MPB no Brasil. De lá pra cá, as coisas só pioraram.

Continuando, com a ajuda da emissora, foram muitos nomes em 1997. Para ilustrar: Fátima Guedes, Túlio Mourão, Capinan, Daniel Gonzaga, Nelson Angelo, Simone Guimarães, Claudette Soares, Laura Finnochiaro, Edvaldo Santana, Luli & Lucina - e por aí foi.

Em dezembro, fizemos uma homenagem ao letrista Costa Netto, recebendo em nosso palco seus parceiros e intérpretes, como Roberto Menescal, Walter Franco, Eduardo Gudin, Vânia Bastos, Vicente Barreto, Daisy Cordeiro, Tutti Baê, Márcia Salomon e muitos outros. Noite inesquecível.Uma curiosidade: o Thomas Roth - que eu ainda não conhecia - também participou, e, provavelmente nessa data, com o início da nossa amizade, começou a nascer a gravadora Lua Discos (depois, Lua Music).

Um pouco antes, em outubro, tínhamos feito uma bela parceria com a gravadora Dabliú - do mesmo Costa Netto - para a primeira edição do projeto "Cadê a MPB?", quando, em duas semanas, apresentamos os artistas do cast da gravadora. Nomes como Kléber Albuquerque, Juca Novaes & Eduardo Santana, Cássio Gava, Silvana Stiévano, Carlos Navas, Élio Camalle, Madan, Antonio Farinaci, Lucila Novaes, entre outros. O "Cadê.." gerou grande espaço na mídia impressa, e teve reedição em 1998, com outros nomes.

1997 foi também o ano em que foram dados os primeiros passos para mais uma das nossas "viradas": o ressurgimento do samba carioca, em São Paulo e - pasmem - até no Rio. Em julho, o compositor Moacyr Luz fez sua primeira apresentação no Villaggio e, ainda que não tivesse se tornado um sambista em tempo integral como é hoje, já dava claros sinais de que isso seria uma questão de tempo. "Moa" se tornou nosso grande amigo e trouxe inspirados - e definitivos - ares cariocas ao bar. Por outros caminhos e coincidências, realizamos, no final desse ano, nossos dois primeiros grandes shows de samba, com duas lendas nacionais: Nelson Sargento (obrigado, João Paulo e Cidinha) e Zé Ketti (este já dava "canjas" regulares nas rodas de choro dominicais), com matéria no Guia da Folha e tudo.

O samba deu a tônica na casa nos seis anos seguintes, mas...isso fica pro próximo capítulo, quando finalmente sairemos deste longo 1997 - que consumiu dois posts inteiros - e viraremos o calendário.

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